domingo, 7 de setembro de 2014

Livro dos Sonhos Esquecidos. Autor desconhecido. Tomo M Pág.1900

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Livro dos Sonhos Esquecidos. Autor desconhecido. Tomo M Pág.1900

Os escamoteadores, pequenas criaturas estas pequena figuras esfomeadas, como uma troça infantil entre um homem e um roedor, rostos de pele esticadas e barrigas salientes. São coisinhas esquias e traiçoeiras, rivalizando com outros pequenos animais pelo espaço. Se enfiaram e se esmiuçaram nas brechas até conseguirem encontrar seu próprio bioma.
Confundidos geralmente com outras entidades nativas de alguns pesadelos, estes pequenos invasores viviam entre nós, nos planos de nossa realidade em tempos anteriores, como um parente distante de um braço torto e atrofiado de nossa evolução. Eram eles antes como nós, uma outra espécie real e racional, com seus idiomas, seus povos, seus tesouros. Tinham assim a promessa de um futuro, de um ambiente e de um mundo onde eles reinariam e poderiam assim cavar a casca desta realidade em busca das verdades primordiais assim como nós fazemos ainda. Pequenos símios em uma pequena ilha, pequena cultura dependente daquele pequeno universo. Até que o desastre e a fome assolaram aquele lugar, devido ao desastre natural de um vulcão que acordou, abrindo sua boca e regurgitando todas as suas entranhas, para morrer seco e inerte. Aqueles que sobreviveram tiveram de evoluir, sem poderem ir a algum lugar se enfiaram cada vez mais na boca aberta do vulcão para o interior da terra. Eles tinham a ânsia de um túnel ou algum outro mundo de bonança naquele lugar e só encontraram o canibalismo e a escuridão. Os mais fortes comiam os mais fracos, os mais esfomeados e os mais cruéis sobreviviam, aqueles que entregavam à própria fome, se tornando comensais do desespero e da morte.  E assim viveram sempre á margem do mundo e da luz, entre fungos e o desintegrar de qualquer laço ou comunidade complexa. Cada vez mais apáticos e angustiados, cada vez mais frios e calculistas, na ânsia da sobrevivência imediata.
Gerações anteriores ficariam aterrorizadas com a presença destes pequenos seres pálidos e cruéis. Se sentiriam atordoados e desesperados ao saber do destino de sua espécie. Enquanto nós vivíamos em nossas histórias e rotinas diversas, aqueles pequenos seres tateavam no breu uma saída. E foi num acordo com este breu, com este esquecimento, com este nada que eles conseguiram sobreviver. Algum acordo silencioso os fez serem tragados pelo breu e por ele carregados ao lugar além do esquecimento. Em nome do esquecimento eles saciariam sua fome sem fim, se saciariam.
Hoje eles sempre aparecem à margem, dominados pelo medo e pela apatia, num metabolismo rápido e demoníaco constituíram outra prioridade. O Breu os ensinou a caminharem por ele dês que assim se alimentassem nos sonhos. Possuem uma bile poderosa, com um ácido ensandecido que pode corroer qualquer coisa, mas selados pelo breu apenas devoram aquilo que o breu quer. E o breu é regido pelo Esquecimento e o Esquecimento ordenou, eles devoram as lembranças, eles podem devorar qualquer coisa, ser ou idéia. Eles podem devorar qualquer memória assim que eles infestarem uma alma, entrando através dos pesadelos, com seus dentes afiados rasgam e destroem em enxames. Sempre se começa esquecendo o nome de alguém, aquela música dos tempos de juventude, o cheiro daquele bolo que marcou a infância. Vão seguindo aquela lembrança por todos os sonhos, por todos aqueles que sonham, a fim de não deixar uma semente. Quando se é uma pessoa, qualquer rastro ou memória deste afortunado será devorado, as pessoas começam a se esquecer dele. Começam a não se lembrar de coisas relacionadas a ele, começam a estabelecer outras referencias para cobrir as lacunas. Se a vítima havia apresentado duas pessoas, estas pessoas começarão a acreditar que foi o acaso, um esbarrão, inventarão algum evento para que este vazio seja preenchido em suas memórias. Logo esta pessoa se tornará um ninguém, em meio à turba não havera nada ou ninguém que se lembre dele. As pessoas com quem ele conversar logo após sonharem acabarão por esquece-lo. Nenhum laço pessoal durará mais que uma noite, até que este, a vítima, resolva morrer por fora, ou por dentro. São aqueles que ninguém nota, fazendo apenas volume numa multidão.
Poucos são os que escapam do esquecimento. Pobres são aqueles que, pela infelicidade de uma espécie ao qual fora indiferente, por um golpe do destino, acaba tendo um fim tristemente igual ao que ocorrera com a história deste pequenos escamoteadores. Livro dos Sonhos Esquecidos. Autor desconhecido. Tomo M Pág.1900

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