domingo, 30 de setembro de 2012

Azul Marinho





Não creio que isto seja uma limitação. – Respondeu  Carlos a respeito de um assunto qualquer. – A iluminação não realmente precisa condizer com o espectro natural.
Ambos estavam ali já faz um tempo, tanto tempo que poucas memórias lhe restavam do que era o “Antes”.  Antes poderia ser casa e o cheiro da comida que remetiam á mãe, mas mãe já lhes era um conceito distante. Distante também como o mundo ali acima deles, mundo do qual já tiveram conhecimento, e cá embaixo nas nuvens sentiam a estabilidade menos transitória possível, era um cumulus nimbus.
Precisaríamos apenas de algum sistema de propulsão, creio... – Carlos sempre tinha seus planos, era como se essa obsessão consegui-se mantê-lo com os pés no chão. – Chão, chão, chão... Sinto alguma idéia vindo disto teimando a sair...
Relaxa Carlos, olha os peixes lá em cima, são o quê exatamente? Tubarões? – Douglas era roliço e rosado como seu nome, mais novo e mais tranqüilo costumava sempre desviar das coisas como o som de Douglas sugere. – Não é todo o dia que a gente tem uma cena dessas, creio que pela falta de estrelas o mar pareça assim tão presente...
Estavam os dois sentados  no  que seria o alto de um monte da cumulus nimbus. Se podia enxergar, olhando para cima, os peixes próximos superfície, estavam eles olhando o mar sentados no início de uma tempestade. A umidade não tocava suas roupas, a umidade não incomodava nada. Sentia-se apenas a sensação ligeira das  pequenas gotas atravessando seus corpos, como filhotes de  estrelas cadentes que findam ao se encontrar co’aquele oceano escuro. Gotas que nasciam naquele "solo" instável e caiam no oceano. Douglas sentiu que aquilo era tato, sentira falta disto e esta sensação lhe veio como um vislumbre, eram dedos em seu cabelo? Quanto tempo? Porque sentiu as gotas das chuvas?
Fechou os olhos e tentou achar, achar em algum lugar de suas memórias rotineiras algum frangalho que lhe remete-se á aquela sensação de novo, ao que poderia ter lhe feito lembrar-se... Só nos lembramos do que nos é importante, pensou num gesto de medo e mentira. Lembramos-nos apenas daquilo que é estimulado, Carlos pensaria. Mas Carlos pensa apenas a mesma coisa, justificou Douglas, mas porque voltar para de onde vieram? Aquela sensação tinha alguma resposta... Mas como buscá-la? Em meio á tantas coisas tinha de mergulhar fundo em sua mente, concentrar-se e esmiuçar-se e arrochar-se em meio á tanta coisa inútil. Pescar quem sabe, naquela nuvem, algum resquício de passado.
Carlos apenas repetia “chão, chão, chão...”, mas Douglas queria sentir, queria sentir alguma coisa que fosse, tentou ir fundo, entrar em algum lugar no escuro de sua mente.  Enquanto lá longe ouvia o ecoar das palavras de Carlos, e o chão se mostrava presente, fixo, material, áspero, úmido, mas sólido como mais nada, nesta solidez sentiu dor, sentiu uma mão pressionado sua cabeça, não era uma mão... Sim era... Algo pressionando sua cabeça contra o chão, queria gritar, mas estava já sem ar devido os chutes. Carlos chorava em algum lugar.
Abriu os olhos como se tivesse acordado, aliviado como se tivesse saído de um sonho ruim. Sonho seria se a sensação fosse singela, mas era como tivesse se afogado. Mas sem respirar.
Carlos, cala a boca! – Falou, aliviado por sentir suas próprias palavras.
Porquê?
Carlos, para de ser chato! Olha o mar... Já parou pra pensar, que a gente deve ter fugido de algum lugar?
Se tivéssemos fugido, com certeza saberíamos que não é para voltar. – Carlos disse, como Douglas tinha pensado. A gente esquece apenas aquilo que é importante, mas Douglas pensa isso. Carlos pensaria apenas que nos lembramos apenas o que é estimulado. Douglas se confundiu por um momento. Mas simplesmente se concentrou no mar, pois não queria reviver aquilo que não se sabe. Não mais...


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