domingo, 18 de maio de 2014

Livros dos sonhos esquecidos. Autor desconhecido. Tomo B. Pág. 11.1989

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Existe um rio, um tipo de rio que nasce de uma fonte dos desejos. Sua água tem um gosto ferruginoso, provocado pelas moedas de sua nascente. Suas margens são de uma areia cinzenta e lisa, onde, caso desejes escavar, verás varias alianças e outros tipos de jóias de mesmo significado, tantos elos prometidos que se enterraram como se fossem antigos moluscos. Nomes e datas, fotos e relicários que virtualizaram promessas de elos eternos, quando estes despedaçados, formam o chão desta paisagem. Como um lixão ou recife de coral, tanto faz, são tantas promessas mortas depositadas no fundo deste rio.
 Quem a bebe a agua deste rio sente uma ansiedade infundada, como se espera-se algo ou um alguém. As pessoas são vistas encarando melancolicamente janelas, olham longe em meio a multidão esperando. Tornam-se reclusas em meio às torrentes do tráfego. Costumam vagar pelas estradas olhando para o além, como se estivessem a esperar algum vulto aparecer na linha do horizonte.
Algumas voltam ao rio e se afogam, como numa gula ou num desespero de assim encontrar aquilo que anseiam, é algo que se percebe ao se percorrer o rio. Em seu outro extremo, em sua foz se vê uma queda d'água, olhando para ela e jogando uma lanterna, se vê tantos corpos de sonhadores alvos e inchados como se estivessem dormindo. Ilusão passageira quando se percebe os lagostins, as cracas outros crustáceos se alimentando daquela cena. Presos em suas cascas, aquelas mentes isoladas, alguns sábios teorizam que são as almas que saem dos corpos nesta forma, para se alimentar dos resíduos do rio, como eternos dependentes acharam uma forma que melhor significasse esta situação.(Livros dos sonhos esquecidos. Autor desconhecido. Tomo B. Pág. 11.1989)