segunda-feira, 19 de maio de 2014

Livro dos Sonhos Esquecidos. Autor desconhecido. Tomo P Pág.1996




Andando em terras liminares, podia-se ouvir o murmúrio de uma presença densa, comum e conhecida. Era, entre prédios com janelas embaçadas, o respirar sonolento de uma metrópole. Escutava-se o barulho dos carros e motos indo e vindo em intervalos regulares de tempo, alguns passos de pessoas e murmúrios incompreensíveis de conversas. Mas eu andava entre aqueles prédios, estava eu no meio daquelas ruas. Não havia ninguém.
Não havia ninguém e eu podia simplesmente deitar ali, escutar aquele som, aquela atmosfera. Da onde aquilo vinha? Sentia-me como um fantasma, como se a realidade estivesse paralela a mim.
Nas vitrines e janelas embaçadas, nos nomes conhecidos em letreiros de lojas, em pertences de mendigos ausentes semi-ocultados nas sombras, tudo aquilo ali me trazia um sentimento angustiante, como se o calor e o viver estivesse longe e eu, minha pessoa, estivesse atrasada. Era tarde, muito tarde...
Mas não, havia vida e ela estava em algum lugar, paralela à mim ou escondida em algumas daquelas janelas. Senti vontade de quebrar aquelas janelas e investigar aquilo, queria gritar para alguém me escutar e esta coisa possível, me responder. Precisava me sentir vivo sob a presença de outra coisa, fosse a coisa que for.
Escrevi meu nome com um estilete nos bancos, escrevi em várias formas possíveis a idéia de que havia alguém, para que outro alguém não se senti-se como me senti.
Livro dos Sonhos Esquecidos. Autor desconhecido. Tomo P Pág.1996