quinta-feira, 13 de março de 2014

Encontro com Deus



Encontro com Deus

Estou ficando velho. De certa forma, todo este processo em minha construção só corresponde a uma busca e a elevação de minha consciência. É simples, basta se afastar de seus semelhantes, intervir no desenvolvimento natural de um planeta e ampliar sua onisciência a partir da fundação de si com a forma de viva consciente nele, como um parasita, mas um parasita com maior controle.
Torno-me uma divindade, outra espécia de realidade me transfigurando de acordo com as expectativas realizadas destes seres.
Um tanto quanto simples se com a tecnologia ade guada, toda a minha criação corresponde a um plano estrutural bem construindo, bastando interferir no pré-câmbrico para o ordoviciano, como vocês chamam, controlando assim a respectiva multiplicidade de formas para uma que fosse mais de acordo com o meu “gosto pessoal”.
De resto, bastava-me repetir o processo até que me viesse algo do qual eu me interessasse. De um grupo de seres que eu achei em início infrutíferos, pequenos ratinhos medrosos e desprezíveis, acabou por surgir um caminho tão irônico quanto. Até mesmo eu não pude acreditar que tomariam o controle algo vindo de origem tão miserável. E continuando assim, por muito tempo.
Vocês não passam de ratos assustados, enfiados em seus buracos tentando encontrar ou inventar respostas para tudo aquilo que os perturba, isso é engraçado. Creio que seja isso, engraçado, é o que em sentiria se eu tivesse esse tipo de mecanismo em minha estrutura.
Mas é neste sentido que veem a troca, eu criei esta sua espécie úmida e torpe como forma, já dita, de me ampliar, minha onisciência consiste no desenvolvimento de um processo onde faço parte dos sentidos e sentimentos, sinto e vejo o que cada ser neste ponto no espaço consegue ver e sentir. Os horrores e deleites, coisas que sua espécia perturbada criou, desenvolveu em um jogo insano pela busca da realidade que os decepciona. Imersos em um coquetel químico que minha espécie não conheceu, é de certa maneira fascinante esta perspectiva, mas um tanto quanto perturbadora. A concepção de uma espécie que fica em uma linha que separa o espírito do animal, por assim dizer, uma espécie consciente que veio do que os da minha espécie considerariam como sujeira, capaz de variar entre o mais sublime e o mais pérfido, nós não temos esta dualidade. Somos uma constante no caos, necessitando de uma outra existência externa para não definharmos no abismo de uma eterna imutabilidade, da estagnação da energia essencial. Algo que sua espécie possui ululando em suas cabeças.
Mas, isso não me satisfaz, eu queria algo mais, e eu, como uma criança enjoada com seus brinquedos quer procurar neles um aspecto novo para que eles não sejam jogados num baú, ou neste caso, simplesmente apagados, como quem desliga um desses computadores, que sua espécia tanto se esmera esperando que seja algo produtivo. Neste sentido, eu desenvolvi uma brincadeira, um jogo como vocês chamam, e a regra é simples. A cada mil anos, eu resolvi gerar um único ser que não está infectado com minha onisciência e este ser liberto, deverá me argumentar um aspecto da humanidade que eu não tenha considerado ainda, algo belo em minha concepção que me divirta por mais este tempo. As imagens do fim estão em vossas memórias assim como muitos elementos que eu configurei para que vocês se comportassem em um determinado padrão, e tu podes acessá-lo através de seus sonhos ou pela representação artística ou insana de seus semelhantes, em sua cultura, manifesta-se pela palavra-chave Apocalipse, de um modo mais geral...
Por exemplo, um dos que eu achei mais interessante, fora o medo da fatalidade de sua espécia, que é, como sua espécie tem este aspecto úmido e físico, metabólico, é uma máquina com um fim causado pelo desgaste e o medo desta fatalidade, na busca de um sentido a ela fez em seu desespero uma série de medidas que eu simplesmente considerava anteriormente um erro, um defeito, como por exemplo, o último par de dentes de suas arcadas dentárias defeituosas. Mas um deles,me mostrou através da criação de uma cultura monumental, o desespero correspondente e a ânsia por uma eternidade, de certo modo ele pensou na mais simples argumentação que era o desejo de viver. Toda uma civilização centrada neste desejo, sendo que por fim, como plano fundamental deste semelhante a ti, através da poesia de sua criação, aqueles grandes palácios aos mortos do outro lado do Rio Nilo, que como ele me desafiou, está até este momento presente em plano físico e em plano inconsciente em sua espécie, representando este apelo pela eternidade. Ele me desafiou e ainda não venci. Estas pedras empilhadas, estes palácios ele disse, estariam para mim, como por toda a eternidade ou por toda a existência deste planeta como um recado de que um dia esta sua espécie tomaria meu lugar.
Neste sentido, eu coloquei mais uma regra nesta brincadeira, tens agora duas opções, a primeira é argumentar de forma que me convença do futuro de sua espécie. A segunda, é que não precisas fazer isto, mas ao invés, poderás destruir ou apagar estas pirâmides mas terás uma perda e também uma recompensa, eu apagarei todo este projeto, assim eu ganho aquele desafio e posso torná-lo um semelhante a mim, por exemplo, diferente daquele verme que me desafiou.

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