segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Salve e Salve.
Paciente N. 36
Salve! Salve e salve meu senhor pelo seu momento de mais ilustre glória... Fomentas o desejo nestas simplórias almas e o finito cairá sobre elas! Sim, na mais pura necrofilia, neste amor pelo mais denso vácuo a sua essência será a ciência de todos, meu senhor... Pois nelas, hoje todo o Destino as ignora... Oh meu senhor! Não tenhas piedade dessas almas quando entregá-las ao vil, não tenhas piedade a todas estas almas dadas, dadas ao vão. Elas não têm ciência com aquela ciência, de nossa dura realidade sob seu domínio.
Sinta essas figuras na rua, seu desespero fulgura nessas almas senhor, casulos dançando sobre o cáustico fogo de seus tormentos, de suas tormentas senhor! Sentimentos que ululam em atitudes vagas, vagas e pueris.
Eu os observo; estes imbecis, absorto absorvo a sua magnificência quando os sinais foram ignorados e apagados pelos banais céticos e resolveram se chafurdar em suas demandas fúteis.
Chamaram-me de louco senhor, vês? Eles não têm fé! Mas lhe avisei, de acordo com os astros e com os sentidos ocultos de quem observa o abismo, em meu cinismo mortal eu deixei minha marca no destino infernal daquelas...
Meus gritos, eu os li no infinito de dor que cairá sobre mim senhor, no horror mais prazeroso, no gozo mais torpe das almas que se devoram!
Escuto agora os gritos vivos do outro lado da parede, a combustão disforme de corpos inúteis no desespero dos vermes cegos querendo sentir na epiderme a esperança ferver. Num louco e estúpido grito entupido de todo tipo de ânsia, numa fome de vida!
Quando o sangue delas lhe mostrou o dia, o dia e o mês e o ano tão dito e repetido e repetido outrora! Quando aqui preso rio no escárnio dos homens sábios... Agora aqui como todo o horror que devoro naqueles que os consomem, como um verme. Como todo o mau agouro ignorado... Como o sorriso de dor daquelas meninas quando sentiram correr-lhes na pele a dor de minha verdade, no gosto do fogo em suas veias, em seus calores...
Sintam agora a culpa que candeia seus tambores, mas eu estou aqui senhor; Meu senhor, eu já escuto atrás desta parede a agonia infesta ir desvanecer... Sinto o seu poder! Pois agora! Reine sobre mim com todas as suas torrentes do inferno!
domingo, 18 de novembro de 2012
Devaneio
Devaneio
E o frio aviva sereno e sopra á margem da praia as lembranças, e o frio aflora um sentimento azul e azul se torna o céu e o mar, e sopra o vento um singelo sentido. Nostalgia rara e estranha que entranha a tonalidade das sensações. Na praia, com o vento sul a rugir seus segredos de gelo e fogo onde antigos reinos dormem esquecidos sub o mar, castigados pela efemeridade das formações geográficas. Reinos de culturas distantes das difusões possíveis, em inverossímeis estruturas se ergueram mundos de conceitos incompreensíveis, para se tornarem, sob fortuna certa, perecíveis tesouros corroídos pelos sais dentre as constrições tectônicas.
E o frio aviva sereno e sopra á margem da praia as lembranças, e o frio aflora um sentimento azul e azul se torna o céu e o mar, e sopra o vento um singelo sentido. Nostalgia rara e estranha que entranha a tonalidade das sensações. Na praia, com o vento sul a rugir seus segredos de gelo e fogo onde antigos reinos dormem esquecidos sub o mar, castigados pela efemeridade das formações geográficas. Reinos de culturas distantes das difusões possíveis, em inverossímeis estruturas se ergueram mundos de conceitos incompreensíveis, para se tornarem, sob fortuna certa, perecíveis tesouros corroídos pelos sais dentre as constrições tectônicas.
Nas escuras imensidões o irônico
palco circular a girar enlouquecido pactuou com o esquecimento de seus atores,
este planeta insignificante produziu entorno de si, o maior delírio possível:
Num trovejo de lucidez efemeridades orgânicas
convulsionam conflitos
internos, tentando fugir da fugacidade de suas naturezas. Num lampejo, na
rapidez de um arroubamento titânico nesse universo: uma espécie, um composto
complexo, tentando existir na incandescência do cosmo, desenvolve em si uma
consciência! Eis um filhote
de oitenta mil anos, naufragado num mar insano sentindo medo do tempo!
E o frio aviva, gelando meus ossos, o sentimento azul de um
devaneio em frente ao mar.
domingo, 30 de setembro de 2012
Gustavo e Carla
Dois jovens de visual retrô se encontravam sentados em um
ponto de ônibus, enquanto passava um denso e confuso cardume de pessoas.
- Quem? – Disse o rapaz de maneira indiferente.
- Marina, ela estudou
com a gente no ensino médio.
- E como ela está?
A menina apoiou a cabeça nos dois braços naquela eterna
expressão de tédio – Diferente, bem eu só a vi passando pela rua.
- Impressionante
você: reconhece uma pessoa na rua e não a cumprimenta.
- Mas eu a chamei
pelo nome, até gritei...
- Ah! Mas, me diga,
ela ainda estava com aqueles vestidos compridos dela?
- Não, estava de
terno, ela mudou como tudo aqui – Fez um sinal com a cabeça, apontando para a
turba desenfreada.
- Só nós
continuamos não? – Deu um abraço rápido, sorrindo. Mas ela não demonstrou
reação – Nós nunca vamos mudar. Eles que entreguem o ponto, nós não.
- Você não entende
Guto.
- Tanto faz.
Ela tampou o rosto com as mãos – Tinha brinquedos e fraldas
nas sacolas dela. Guto, ela era mãe.
- E daí?
- Você não
entende?
- Não se preocupe
você ainda está como eu te conheci no primeiro ano. Duvido que você fique
diferente quando tiver filhos.
Ela esmaeceu. Silêncio, até que falou. – Você não entende
Guto... Eu não sei, é estranho, eu me sinto meio só sabe?
Ele se virou para ela, meio surpreso. – Mas você tem a mim!
- Não é isso Guto,
eles nos evitam sabe? Guto, pelo amor de Deus.
- Eles que se
fodam! – Se levantou. – Olha! Eu tenho orgulho de manter o mesmo rosto, de ser
ainda quem eu sou e não me entregar feito àqueles bandos de imbecis! Se eles
mudaram, é porque são covardes!
- Eles, eles eram
os nossos amigos Guto. – Começou a chorar.
- Nós não mudamos!
Porque eles têm de mudar? Nós vencemos!
- O quê que tem
para vencer Guto!?
- Como assim?
Pausa, ela respondeu, se controlando. - Nós, Guto, nós não
devíamos ter bebido. Nós Guto, não
devíamos ter ido nadar na piscina.
- Que piscina?
Ela caiu aos prantos. – Quando nós saímos continuaram a nos
chamar!
Ele a abraçou, preocupado. – Que piscina Carla, que
piscina?!
- Nós, depois disso
nunca mais olharam para a nossa cara. - Ele ficou quieto. – Tinha, tinha aquele
casal... Eles também caíram na piscina, eu os vi Guto. Mas, é confuso, o rosto
dela, quando passaram, o rosto dela, sabe, ele tinha algo de estranho.
- O quê?
- Meu Deus...
- Do que estás
falando Carla? – Tenso, começava a tremer. – Se, eles nos ignoram, fodam-se,
fodam-se eles!
- Não são só eles
Guto. – Ela entra em posição fetal, já Guto descontrola-se. Furioso, fica em pé
e começa a gritar varias vezes. – Eu não quero saber! Eu não quero saber! – Com
as mãos no rosto se acalma, respira e volta a sentar-se.
- Guto, ela estava
grávida. Estava grávida.
- Quem?
- A Marina, estudou
conosco no ensino médio.
- E como ela está?
- A menina apoiou a
cabeça nos dois braços naquela eterna expressão de tédio. – Diferente, bem, eu
só a vi passando pela rua.
- Impressionante
você, reconhece uma pessoa na rua e não a cumprimenta.
...
Dois jovens de visual retrô encontravam-se sentados em um
ponto de ônibus, enquanto passava um denso e confuso cardume de pessoas. Dois
jovens estavam sempre lá sentados, sem seus rostos. Duas almas estavam presas
eternamente em um ponto de ônibus, enquanto por lá passava a correnteza densa
de um rio. Dois condenados estavam eternamente fadados a prisão em um lugar
qualquer, enquanto passava por eles a correnteza vaga e confusa de Letes.
Tarde de Domingo
De certo, não sei depois do quê, mas acabei assim. Não que eu tenha algum problema físico, mas estive á vinte anos nesta cadeira, fora embora com isso minha adolescência e minha juventude. Dês dos dez anos de idade eu apenas assisto, algo que eu não consigo me impede de mover qualquer músculo que seja. Eu não sei, simplesmente não posso. Foi aos dez anos também que sai da escola, e meus pais, perto de mim nunca mais falaram nisso, ou nela. Tornei-me um móvel, creio, com aquele tom de dependência que os aquários possuem, só que com uma função diferente. Eu era como um retrato de uma memória ruim, silente á mim mesmo, o medo de me dizer ou de reviver o que tenha acontecido, que meus familiares tinham... E apenas a espera da boa vontade... Cresci como uma planta, à espera das estações, podia abrir os olhos, ver as cores desbotarem na janela para depois renascerem, o som da vida correndo lá fora. Odiava a televisão, eles ligavam ela pra mim e tudo aquilo me incomodava, no inicio como uma cesta de doces para uma criança com diabetes, depois uma repetição, uma rotina terrível que apenas mofava tudo ao meu redor, tornando os dias rançosos, menos reais. Como se realidade fosse algo que eu entendesse... O mundo estava lá fora. Para ser sincero,dentro de minha casa, raros eram os que olhavam para mim, de minha família, minha mãe cuidava, é claro, com certo distanciamento de governanta. Nunca me olhei em um espelho, e a televisão, com uma sobre tela para ficar com um brilho que não incomoda-se, impedia o reflexo. Uma vez, com a chegada de visitas, fiquei horas em um porão, olhando para a parede. Era como se lhes representa-se alguma perda, ou vergonha, como o machucado causado por uma brincadeira infeliz. Essa covardia, condizia também com o roubo de parte de minha vida, e acredito que essa culpa, eu era como um estandarte, trazia todos os demônios de minha família à costa, adentrando em suas rotinas, sussurrando a verdade impregnada de passado em seus ouvidos enquanto tentam levar as suas vidas. Era eu, no meu silêncio tão poluído e estarrecedor, aos observar pelo canto dos olhos. Com o tempo, com a raiva, comecei a me deleitar com isso. Acreditava eu, que se eles tivessem me entregado o meu passado, o que me tornara assim, eu poderia voltar ao que era antes, e esta raiva adentrava, como um ódio ao carcereiro. Carcereiros estes que me abandonaram, em uma noite, eu em minha cama escutei os passos e o arrastar de móveis, malas, sussurros e o partir do carro. Depois o silêncio, o escuro e o saber certo de que eu estava entregue à morte. Fora abandonado, por aqueles que roubaram minha vida, estava enraivecido e aquele silêncio denso a me cobrir, o mofar naquele lugar infesto em minha própria sujeira, a fome, a inanição pela displicência daquelas pessoas, apodreceria e minhas vestes cobririam meus ossos, manchando aquela cama com o que restar de mim. Raiva, gritei de raiva e me assustei com minha voz, essa raiva, esse medo me trouxe de volta, com o tempo, consegui arrastar-me para fora do quarto, minhas unhas arranhando o piso, me assemelhava mais à um réptil do que á um ser humano. De certo modo, em meu orgulho, era assim que me via. Iria pedir ajuda, a porta estava aberta, aquela toda luz, a sensação da grama, o cheiro! Estranhei aquela textura como estranhei tudo que presenciei, mas o cheiro estava tão forte! Asfalto, o calor proveniente, e eu, destoando em meu tema de hospital e dor. Não acredito, não acredito como odiava tudo aquilo, como um ciúmes doentio, d’aquilo que destoava tanto de mim. E as pessoas, sim, aquelas coisas me olhavam como se eu fosse um monstro, não, elas não me ofereciam ajuda. Corriam, como quem corre do diabo, poucos tinham coragem de apenas manter distancia. Até que um nobre cavalheiro teve a coragem de tentar me matar, como se abate alguma infestação, algo baixo, aquela lámina do machado refletiu o meu rosto. Meu rosto, daquela tarde á vinte anos, das luzes, e do momento derradeiro em que tornei-me diferente de vocês.
Fuga
“Hey man in your hideaway
Where do we go from here
Heroes in the tragedy
Down-home just a memory
Where do we go
When the world gets in the way”
The Wicked Symphony
The Wicked Symphony
Avantasia
Eu escutava o latido dos cachorros, seguiam-me e ao meu
irmão. Fazia tempo que eu não escutava o barulho do lado de fora, mas hoje sim! Eu pude
enfim escapar, eu estava do lado de fora. Não sei quando, mas só sei que fiquei
ali, naquele quarto sem saber o que havia acontecido com meus pais. E agora meu
irmão, mais pálido do que eu me puxava pelo braço para sair daquele lugar.
Podia ver o vergão em seus pulsos, não, ele havia cortado as
cordas e aquela ausência de pele parecia doer, mas não parecia se importar. Mas o que
importa? Escapamos! Os espinhos entravam em nosso sapato e podíamos ver a
respiração condensar-se, devia ser inverno então aquilo fora à mais de um ano.
“Você escuta a música? Vamos para um lugar melhor!”, ele me
olhava confiante, “o quê?”, respondi confuso, só escutava o barulho da rua, os
carros passando, devia ser uma BR. “Quando voltarmos, eu vou voltar a tocar
numa banda! Vamos ficar famosos!”, deixei- o delirar, creio... Me sentia velho,
por ter estado naquele cativeiro, eu não sei, mas me sentia envelhecido,apenas
estar fora dele me fora mais que o suficiente. Minhas pernas doíam e aquele
lugar parecia não ter fim, nos guiávamos pelo som dos carros e havia uma
espécie de farol distante, talvez um outdoor.A grama se condensava e as moitas
pareciam existir apenas para nos impedir de sair dali, olheipara meu braço e vi minha pele enrugada, manchas...
Quanto tempo eu estive ali? Os latidos se aproximavam e
pareciam se excitar mais quando nos cortávamos nos galhos, porémmoviam-se eles nos circundando como qualquer outra matilha.
Meu irmão apenas seguia reto, tinha um sorriso no rosto que me apavorava, de onde tirava
aquela confiança? Quis me segurar nele por um tempo até livrar-me das cãibras, quanto
tempo passou? Meia hora, duas? Porque os cães não nos atacavam? “Mano, porque eles
não nos atacam? Para onde vamos depois daqui?”, “Para casa! Vamos, acho que ainda me
lembro!”, “Mano, essa era nossa casa!”. Silêncio, pela primeira vez ele hesitou, “Cara, qualquer
lugar fora daqui será a nossa casa. Eu vou voltar a tocar e a gente vai ter tudo de volta...” era a
loucura pairando ao meu lado, percebi, mas o que importava agora? “Estamos
perto!” Ele gritou, aquilo era o sinal da liberdade, aquela cerca! Era só
passar por ela e era tão simples, apenas um arame farpado... Como era magro
devido ao cativeiro, me esgueirar foi simples.
Agora estava na rua, e era só pedir carona! Implorar por
auxílio! Parar um carro qualquer que seja. Feliz, olhei para trás, para meu
irmão. “Você não vem?”, “Já fiz o que tinha de ser feito?”,”Como assim?”
Me dei conta de que agora ele estava como quando invadiram
nossa casa. Mas fez muito tempo. Quanto tempo? Minhas mãos estavam enrugadas... Chovia, vi meu irmão desvanecer na chuva como que feito de
cinzas, como que feito de um material solúvel... Quanto tempo eu fiquei ali? Olhava para aquele lugar
abandonado, aquela quantidade enorme de luzes que não deveriam estar ali, essa fora a rua
em que cresci?Mas eu fugi, estava vivo e era o que importava, mas, mas eu
sentia a voz do meu irmão mais velho
sussurrar na minha cabeça “Ei cara, se você fugir... Para onde vamos, depois
daqui?” Era a voz do meu irmão, amarrado do outro lado do quarto, muito tempo
atrás...
Azul Marinho
Não creio que isto seja uma limitação. – Respondeu Carlos a respeito de um assunto
qualquer. – A iluminação não realmente precisa condizer com o espectro natural.
Ambos estavam ali já faz um tempo, tanto tempo que poucas
memórias lhe restavam do que era o “Antes”.
Antes poderia ser casa e o cheiro da comida que remetiam á mãe, mas mãe
já lhes era um conceito distante. Distante também como o mundo ali acima deles,
mundo do qual já tiveram conhecimento, e cá embaixo nas nuvens sentiam a
estabilidade menos transitória possível, era um cumulus nimbus.
Precisaríamos apenas de algum sistema de propulsão, creio...
– Carlos sempre tinha seus planos, era como se essa obsessão consegui-se
mantê-lo com os pés no chão. – Chão, chão, chão... Sinto alguma idéia vindo
disto teimando a sair...
Relaxa Carlos, olha os peixes lá em cima, são o quê
exatamente? Tubarões? – Douglas era roliço e rosado como seu nome, mais novo e
mais tranqüilo costumava sempre desviar das coisas como o som de Douglas
sugere. – Não é todo o dia que a gente tem uma cena dessas, creio que pela
falta de estrelas o mar pareça assim tão presente...
Estavam os dois sentados no que
seria o alto de um monte da cumulus nimbus. Se podia enxergar, olhando para cima, os peixes
próximos superfície, estavam eles olhando o mar sentados no início de uma tempestade. A umidade não
tocava suas roupas, a umidade não incomodava nada. Sentia-se apenas a
sensação ligeira das pequenas gotas atravessando
seus corpos, como filhotes de estrelas
cadentes que findam ao se encontrar co’aquele oceano escuro. Gotas que nasciam naquele "solo" instável e caiam no oceano. Douglas sentiu que
aquilo era tato, sentira falta disto e esta sensação lhe veio como um vislumbre,
eram dedos em seu cabelo? Quanto tempo? Porque sentiu as gotas das chuvas?
Fechou os olhos e tentou achar, achar em algum lugar de suas
memórias rotineiras algum frangalho que lhe remete-se á aquela sensação de
novo, ao que poderia ter lhe feito lembrar-se... Só nos lembramos do que nos é
importante, pensou num gesto de medo e mentira. Lembramos-nos apenas daquilo
que é estimulado, Carlos pensaria. Mas Carlos pensa apenas a mesma coisa,
justificou Douglas, mas porque voltar para de onde vieram? Aquela sensação
tinha alguma resposta... Mas como buscá-la? Em meio á tantas coisas tinha de
mergulhar fundo em sua mente, concentrar-se e esmiuçar-se e arrochar-se em meio
á tanta coisa inútil. Pescar quem sabe, naquela nuvem, algum resquício de
passado.
Carlos apenas repetia “chão, chão, chão...”, mas Douglas
queria sentir, queria sentir alguma coisa que fosse, tentou ir fundo, entrar em
algum lugar no escuro de sua mente.
Enquanto lá longe ouvia o ecoar das palavras de Carlos, e o chão se
mostrava presente, fixo, material, áspero, úmido, mas sólido como mais nada,
nesta solidez sentiu dor, sentiu uma mão pressionado sua cabeça, não era uma
mão... Sim era... Algo pressionando sua cabeça contra o chão, queria gritar,
mas estava já sem ar devido os chutes. Carlos chorava em algum lugar.
Abriu os olhos como se tivesse acordado, aliviado como se
tivesse saído de um sonho ruim. Sonho seria se a sensação fosse singela, mas
era como tivesse se afogado. Mas sem respirar.
Carlos, cala a boca! – Falou, aliviado por sentir suas próprias
palavras.
Porquê?
Carlos, para de ser chato! Olha o mar... Já parou pra pensar, que a gente deve ter fugido de algum lugar?
Porquê?
Carlos, para de ser chato! Olha o mar... Já parou pra pensar, que a gente deve ter fugido de algum lugar?
Se tivéssemos fugido, com certeza saberíamos que não é para
voltar. – Carlos disse, como Douglas tinha pensado. A gente esquece apenas
aquilo que é importante, mas Douglas pensa isso. Carlos pensaria apenas que nos
lembramos apenas o que é estimulado. Douglas se confundiu por um momento. Mas
simplesmente se concentrou no mar, pois não queria reviver aquilo que não se
sabe. Não mais...
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